Elo MNBA – Museu Nacional de Belas Artes
Histórico
O prédio do Museu Nacional de Belas Artes foi construído devido à necessidade da ampliação do espaço da primeira pinacoteca criada com as obras trazidas da Europa por Joaquim Lebreton, chefe da missão Artística Francesa de 1816, que chegou ao Rio de Janeiro a convite do príncipe regente D. João para estabelecer entre nós o ensino artístico de uma futura Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, cujo nome passaria a ser Academia Imperial de Belas Artes.
Proclamada a República, em 1889, a academia Imperial de Belas Artes transformou-se em Escola Nacional de Belas Artes, sendo que em 1890, durante a direção de Rodolfo Bernardelli, deu-se prioridade a uma campanha para se conseguir o local da construção de uma nova sede para a referida escola.
Na gestão do então prefeito Paulo de Frontin foi cedida uma quadra nos terrenos junto ao Morro do Castelo, onde já havia sido aberta a Avenida Central, atual Rio Branco. Era uma quadra plana de 5.180 metros quadrados, tendo 74 metros de frente para a Avenida Central.
Foi indicado para projetar a nova sede da Escola Nacional de Belas Artes, o arquiteto e professor da mesma Adolfo Morales de los Rios, que tinha realizado relevantes trabalhos de arquitetura no interior e no Rio de Janeiro – sendo vários projetos para a Avenida Central, como por exemplo o edifício para o Supremo Tribunal Federal (inicialmente Palácio Arquiepiscopal do Rio de Janeiro), datado de 1905, sendo aprovado o projeto ENBA em 30 de março de 1906, foi lançada a pedra fundamental sobre a qual seria construída a sede da Escola Nacional de Belas Artes.
Segundo o Arquiteto Adolfo Morales de los Rios, em primeiro de setembro de 1908, o edifício foi considerado terminado. É por isso que na fachada consta a inscrição de 1908, mas é somente em 1909 que Rodolfo Bernardelli vê pronto para a inauguração o projeto de Morales de los Rios, com a presença do presidente da República Dr. Nilo Peçanha e altas autoridades. Foram cunhadas medalhas comemorativas desse grande acontecimento com a efígie de Rodolfo Bernardelli, de autoria do gravador Augusto Giaberti.
A partir de alguns desenhos em ferro-prussiato, encontrados no Arquivo Nacional, foi possível verificar que o projeto original de Adolfo Morales de los Rios foi bastante simplificado, com a não execução das estátuas nos nichos e modificações no coroamento de prédio.
Do prédio, um dos mais imponentes da primeira geração de edifícios da Avenida Rio Branco, podemos dizer que teve como base de inspiração o Museu do Louvre, correspondendo a concepção do século XIX do “Museu Palácio”, como acontecia nos museus europeus. A fachada principal tem essa referência predominante , inspirando-se no Renascimento francês; já as duas fachadas laterais seguem o Renascimento italiano e a fachada posterior possui caráter tipicamente eclético.
Como elementos decorativos, além de ornatos, frontões e colunas, o prédio recebeu em suas “loggias” frontais um friso de medalhões pintados por Henrique Bernardelli contendo o busto de membros da Missão Artística Francesa, bem como de outros artistas franceses e brasileiros. O frontão é sustentado por cariátides de Rodolfo Bernardelli e a decoração é complementada por colunas de ordem coríntia. Por sua vez as fachadas laterais, menos suntuosas, apresentam no segundo pavimento, vazamentos para iluminação das salas de aula, enquanto o terceiro pavimento, reservado para as galerias de exposição, é fechado. O não vazamento do terceiro andar foi compensado por painéis em mosaico colorido, executado por Félix Gaudin, de Paris, representando personalidades da história da arte; arquitetos, pintores, arqueólogos e críticos de arte. Na fachada lateral, “Rua Heitor de Mello”, vê-se Vitrúvio, Vassari, C. Blanc, Pacheco, Scamozzi, Violet Le Duc, Milizzia e Bermudez. Na fachada lateral “Rua Araújo Porto Alegre”, Leonardo da Vinci, Vignola, Winkelmann, Mansart, Juan de Arphe, Ruskin, L. B. Alberti e Stendhal.
A fachada posterior, com poucos vãos, foi completada com painéis em baixo relevo, executados pelo escultor escocês Edward Cadwell Spruce, tendo uma simbologia representativa dos ensinamentos artísticos da Antigüidade Clássica (greco-romana) e Egípcia.
Internamente o prédio sofreu, no início dos anos vinte, uma radical reforma, planejada pelo professor Arquimedes Memória. Como resultado foram, executados o hall do 2º pavimento e as duas escadas laterais decoradas em estilo Luís XVI, o hall no 3º pavimento, além da reforma e redução do Salão de Conferências, hoje auditório Leandro Joaquim, e a construção da atual galeria Eliseu Visconti.
Pode-se dizer que o prédio do MNBA é um dos poucos exemplos remanescentes na cidade, onde a utilização do ecletismo foi feita em escala monumental e volumétrica, juntamente com o Teatro Municipal e a Biblioteca Nacional – construções da mesma época -, concepção eclética essa que se espalhou por toda a cidade na concepção urbanística de Pereira Passos.
A construção do prédio da Escola Nacional de Belas Artes está inserida em um momento histórico caracterizado pela ascensão da cidade do Rio de Janeiro como centro comercial da virada do século. As drásticas modificações ocorridas no espaço urbano carioca, com a demolição de quadras inteiras cuja arquitetura trazia lembranças do passado colonial, proporcionaram a revolução visual de grande escala no centro da cidade com a finalidade de sintonizar a mesma com grandes metrópoles européias, que sofreram transformações semelhantes ao longo do século XIX.
A Escola Nacional de Belas Artes e sua pinacoteca funcionaram juntas até 1937, quando foi então criado pela lei n.º 860-T no livro de Belas Artes fls. 92, datado de 24 de maio de 1973.
José Silva Ribeiro
Ex-arquiteto do MNBA
VIDEOS
Escola Nacional de Belas Artes (Zélia nos anos 1920)
Elo Irmãos Bernardelli (professores de Zélia Salgado)
Elo Cândido Portinari (colega de Zélia Salgado)